A língua e os dentes

O abade de um mosteiro estava à beira da morte. Um dos seus monges, que lhe tinha grande devoção, sentado à beira do seu leito, questionava o mestre:
- Não teria o senhor algum segredo de santidade e vida para me ensinar?
O abade, com dificuldade e sinceridade, abriu a boca e ordenou ao jovem monge que olhasse lá para dentro.
O monge achou que o abade estava a delirar. “Coitado, pensou, deve estar surdo ou já não compreende o sentido das palavras.”
Então, repetiu, falando alto o bem próximo do ouvido mestre:
- Eu perguntei-lhe se não tinha nenhum segredo de santidade e vida para me ensinar.
- Então, filho – respondeu o agonizante -, estou a pedir-te que olhes para dentro da minha boca
- e abriu a boca para o pobre monge.
- O que estás a ver dentro, meu filho?
- Não vejo nada, mestre!
- Tens a certeza, meu filho? Olha com mais atenção. Não estás a ver a minha língua?
- Ah, sim, vejo a sua língua...
- E que mais?
- Não vejo mais nada.
- Tens a certeza? E os meus dentes, consegues vê-los?
“Coitado!, pensou o monge está mesmo a delirar.”
- Mestre, há muitos anos que o senhor já não tem dentes...
- Então, filho, presta atenção a este ensinamento: a língua é feita de carne e músculos, aliás, músculos muito frágeis.
Os dentes são estruturas mineralizadas, muito fortes, mas que se acabam e caem primeiro, porque são duros. A língua é mole e flexível. Ela aprende a adaptar-se... mas é firme naquilo de que precisa. Assim também, meu filho, a pessoa que tem o coração duro, diante dos problemas da vida, é a primeira a cair.
Aprende a ser flexível diante de Deus. Ele quer dar-te um coração de carne, e não um coração de pedra, mineralizado como os dentes...

Padre Léo, scj in Vida Consagrada

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